E fez-se a luz
Minha primeira lembrança dos Walverdes é de uma série de ensaios no estúdio Tan, no bairro do Menino Deus em Porto Alegre, onde eu e o Marcos morávamos. Um estúdio quase profi pra época, grande, decente, limpo, a uma distância caminhável de casa. Ainda tinha um palquinho de madeira pra bateria que dava um sonzão massa. Tinha ar-condicionado!!
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No primeiro dia tinha mais gente do que instrumentos: o Marcos na bateria, o Iuri Freiberger se revezando em diversas posições, o Luis Fernando numa guitarra, o meu colega de faculdade Frederico Messias na outra e o Felipe Pérez, vizinho meu e do Marcos, no baixo. O Marcos me corrigiu: na verdade teve um ensaio antes disso com o Luciano de Morais no baixo. Não me lembro muito bem como é que rolaram as coisas, só sei que depois de algumas sessões o Fred caiu fora, o Iuri passou apenas a nos gravar, o Luciano também deixou a história e sobramos só eu, o Marcos, o Felipe e o Luis Fernando.
Eu não sabia tocar absolutamente nada, então apenas cantava e inventava as letras, sempre em cima de conversas incongruentes que tínhamos. Ficávamos lá, fazendo jam sem saber tocar e num certo ponto sei lá como apareceram seis ou sete músicas. Grande parte delas composta pelo Luis Fernando, que era o que mais dominava seu instrumento. Metade das músicas era meio punk (não porque escutássemos punk, mas porque era o que conseguíamos tocar), metade meio funk metal (porque era o lance da hora).
Antes de nós sempre ensaiava a Produto Nacional, seminal banda de reggae portoalegrense, que nos recebia com toda a sua simpatia (eu achava que era simpatia), os caras repletos de sorrisos mesmo quando estávamos já querendo entrar ansiosos. Isso era fevereiro de 93, aqueles verões absurdamente quentes da capital gaúcha, o que não nos impedia de beber coisas como Velho Barreiro e Sete Campos de Piracicaba pra aquecer antes de tocar.
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Esses ensaios são o que consideramos o início de tudo. De lá saíram as músicas para os primeiros shows e para as primeiras demos. Foi tudo muito simples e comum: meia dúzia de amigos que se conheceram no bairro ou na faculdade começando a tentar emular seus ídolos de um jeito muito tosco. Não havia nenhum tipo de pretensão declarada ou grandes planos. Nem pequenos planos, tampouco planos médios. Repetindo, era tudo muito simples. Queríamos apenas nos reunir, beber, bater papo, tocar e, com isso, conquistar o mundo.
As conexões eram mais ou menos assim: eu, o Marcos e o Felipe éramos vizinhos de prédio. Compartilhávamos alguns gostos musicais, trocávamos vinil e fitas cassete, essas coisas. Nunca vou me esquecer do dia em que nos encontramos na janela do Felipe e comentamos a matéria do Fernando Naporano no Dóris Para Maiores (precursor do Casseta & Planeta), tipo 89 ou 90. Era sobre o "Lurch", termo precursor do grunge. Falava do Nirvana e do esquecido Sun Carriage. Ali já dava pra perceber que alguma coisa ia acontecer em breve. Brincamos naquele dia: "imagina se daqui a um tempo o rock toma conta das rádios". Rimos bastante disso, mas aconteceu. Pouco tempo depois o Nirvana desbamcava o Michael Jackson na parada americana e tudo quanto é rádio de qualquer biboca começava a tocar bandas até então desconhecidas como o Faith No More e depois o Soundgarden e o Pearl Jam, só pra dar alguns exemplos...
Toda banda nasce com um contexto mundial e outro local. O mundial, então, era esse: o Guns'n'Roses, o Chilli Peppers e o Faith No More abrindo caminho pra explosão das guitarras distorcidas que viria a seguir. A MTV brasileira fazendo o papel de "abertura das importações" e a cultura pop nacional começando a alinhar seus planetas de forma mais ampla com a cultura pop anglo-saxônica.
O contexto local era um reflexo do contexto mundial. Porto Alegre começava a responder a essas estímulos com a gestação de toda uma geração de novas bandas criadas nos bares da avenida Osvaldo Aranha, tradicional reduto underground desde os anos 80. O bar Porto de Elis recebia todo início de semana a Segunda Sen Ley, idealizada pelo Egisto, ex-Colarinhos Caóticos (abrindo um precedente vivo até hoje, que é um bando de loucos fazendo festa na segunda-feira, coisa ainda rara fora do eixo São Paulo-São Paulo).
Depois de uma época de semi-marasmo no cenário roqueiro da cidade, a movimentação recomeçava com mais intensidade. A Rádio Ipanema FM continuava a fazer o papel de divulgar as bandas muitas vezes em horário nobre, mesmo que gravadas em toscas fitas cassete. Só o que faltava era surgir um ponto geográfico na cidade que fosse única e exclusivamente dessa nova geração. A Osvaldo Aranha por muitos anos ainda foi importante no encontro da galera, mas ela pertencia de certa forma aos anos 80 e a coisa toda pegou mesmo quando o povo começou a subir do Bom Fim para a Independência, um trajeto de cerca de dez quadras com uma ladeira a enfrentar (você podia escolher qual rua subir). Era comum ficar encontrando gente de banda ou da "cena alternativa" a noite inteira circulando entre os dois pólos.
Lá em cima, mais próximo do centro da cidade e da Avenida Farrapos (que reunia e ainda reúne grande parte dos puteiros da cidade), surgiu uma espécie de região com todos os aspectos necessários para o crescimento de uma cena musical: uma casa noturna pra shows e dois bares com ceva barata pra galera aquecer na rua.
A rua se chamava Barros Cassal. Os bares eram o (até hoje ativo) Bambu's e o Ceva a Um Real (eternizado em "Merda de Bar" da Comunidade Ninjitsu). A casa era o mítico Garagem Hermética.
Esse foi o Triângulo das Bermudas indie portoalegrense, onde muita coisa aconteceu, onde muita gente se perdeu e muita gente se criou. Inclusive os Walverdes.
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PRÓXIMA ATUALIZAÇÃO LÁ PELO DIA 5 DE MARÇO!!
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8 comentários:
eu também tinha uma toquinha beastie boys hehe até no calor do
verao eu usava! que imbecil.
cara eu conheci o luciano,aqui na festa da cachaça em santo antonio,eu trabalhava na organização e ele estava espondo a pinga dele lá.dái ele falou do show que patrocinou.bem legal o blog!
muito preza! ansioso pelo próximo post.
abraço
pedro
eu fui em quase todos os show dos Walverdes nesse tal Garagem Hermética, realmente lá rolaram coisas históricas, uma delas era o mini tocando a Lespol do Marcos, que sofreu poucas e boas em suas mãos, além dele gritar aos quatro ventos em mais um show no garagem, creio que eles eram sócios do bar, "Vocês estão se divertindo, mas quem vai pagar esse show somos nós", ou os devaneios da banda tocando Furacão de Oklahoma, Claudia Liz e outras esmeraldas, putz, as músicas da demo Vai criança e faz a tua arte, que aliás tem duas capas diferentes (eu tenho as duas) ou a demo de Título "Walverdes", lançada pelo selo Hipo Campo do Guilherme, porra tem muita história, muitas noites no Garagem, muitos beijos na minha ex-namorada, dados em ritmo Walverdiano no palco quebrando tudo,eta anos 90, ah, tem tanto show e tantos lugares que eu vi os caras tocarem,alguém lembra do Loucos de Cara em Santo Antônio da Patrulha, que aliás virou demo e eu tenho, bom quer saber a real, tenho todas as demos e cd's da banda, até o cd prod. pelo Luciano Menezes do selo Barra Lúcifer...
bom mais pra frente conto outras histórias do Nirvana portoalegrense, ainda tenho muitas cartas na manga e muitas lembranças boas dos anos 90's...
SSS
eu, como jovem headbanger que sou, comecei minha história com o walverdes em um show em 1997, se não me engano, no garagem hermética, acompanhado do ilustríssimo tatu, baterista do meu conjunto na época.
bons tempos!
Haha, olha o Marcolino magro, rapaz!!
Sensacionais as memórias.
Bem que vc podia colocar detalhes das gravações, por exemplo qual pedal, guitarras e equipamentos que vcs usaram, por exemplo na foto - dessa bagunça só podia sair outra bagunça - aparecem alguns pedais e guitarras, vc podia detalhar mais..
Obrigado
Wemerson
Bahhh…eu vivo numa bolha…eu acho
Vi so hj o blog da Walverdes. Por uns instantes, saquei q o tempo passou rapido. Melancolia total agora…saudades daquela epoca. A banda fazia o teto cair…lembra? Um show No Garagem Hermetica…cada refrao que a gente entrava…parede sonora das nossas guitarras e o Marcos tocava como se tivesse uma marreta em cada mao. Ele nao batia no prato ele martelava. Muito afude…alguns ensaios a banda terminava, tocando no chao deitado…alcolizados. Mas eram alguns ensaios…nao lembro como definíamos o dia desse ensaio…cachaca e a musica nervosa…punkera total. E moshes inacreditaveis…eu era crente, q na Walverdes, podiamos voar…nos showa em geral dsas bandas da epoca, o mosh era cultuado, cultura do "mosh"…so faltava fazer piruetas ou performances nos pulos…so via a pessoas passando sobre minha cabeca o tempo todo…ou caim em ti, ou tu segurava…e a banda tocava e durante o shows um saia voando do palco, e se jogava aleatoriamente, sem saber se vao segurar ou vai esbarrar em alguma mesa, piso do bar, caixa de som, mesanino, escadas, extintores de incendio, ou se o portao da quarta dimensao abrisse, o cara ia cair dentro do opalao preto que perseguia e sabotava a galera, Fico feliz de ter compartilhado um pouco dessa historia ducaralho, .Uma banda de, rock e outros sons, formato "garagem", caras que gostavam de musica, tocavam ou faziam composicoes sozinhos e precisavam se juntar com outras pessoas…um grupo de pessoas…para formar "uma banda…Essa eu posso dizer: "toquei numa banda de rock" original. Banda punk era a Walverdes…certamente…punks brasucas, no nosso contexto…punks. Abrasssso pra ti e pra banda…longa vida a Walverdes... Luiz Fernando Ladeira
Obrigado
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